Maurren Maggi e o 4×100 m: as conquistas femininas nos Jogos de Pequim-2008

Ouro no salto em distância e bronze no revezamento inauguraram o quadro de medalhas das mulheres do atletismo olímpico do Brasil

O dia 22 de agosto de 2008 ficou marcado na história das mulheres do esporte brasileiro. Na mesma data, na pista do Ninho do Pássaro, o estádio da Olimpíada de Pequim, Maurren Maggi conquistou a medalha de ouro no salto em distância – o primeiro título individual feminino do país – e o revezamento 4×100 m disputava sua primeira final olímpica, com um quarto lugar que, mais tarde, se transformaria na medalha de bronze.

Maurren Maggi, com Nélio e Tânia Moura (Wander Roberto/COB)

Até aquela noite de Pequim, manhã no Brasil, uma mulher brasileira jamais havia sido campeã olímpica. No atletismo, o melhor resultado ainda era de Aída dos Santos, que tinha conquistado o 4º lugar no salto em altura em Tóquio-1964.

A final do salto em distância começou às 19h20, com 12 competidoras. Maurren alcançou a marca de 7,04 m logo em sua primeira tentativa. Precisou esperar toda a prova, e superar a tensão do último salto da russa Tatyana Lebedeva, apenas um centímetro menor que o seu, para celebrar a inédita conquista. “O que é um centímetro? Um centímetro… é o que mudou a minha vida!”, lembra a saltadora.

Maurren tinha disputado a Olimpíada de Sydney-2000, aos 24 anos. Enfrentou uma suspensão por doping de dois anos, entre 2003 e 2005, e retornou às competições em 2006. No ano seguinte, foi campeã nos Jogos Pan-Americanos do Rio. A regularidade dos saltos, sempre próximos aos 7 metros, credenciavam a brasileira a uma medalha. Campeã em 2008, ainda disputou uma terceira Olimpíada, em Londres-2012. Mas, lesionada, não chegou à final.

Quarteto brasileiro do 4x100m feminino em Pequim 2008 Foto: Mark Dadswell/Getty Images

Pouco depois da conquista de Maurren, às 21h15, as velocistas Rosemar Coelho Neto, Lucimar Moura, Thaíssa Presti e Rosângela Santos largavam para uma inédita final do revezamento 4×100 m. 

O revezamento feminino começou a ser disputado nos Jogos de Amsterdã-1928. O Brasil teve sua primeira participação em Londres-1948, edição em que o país estreou na disputa feminina. A equipe do 4×100 m formada por Benedicta de Oliveira, Lucila Pini, Melânia Luz e Gertrudes Morg fez o tempo de 49 segundos e não se classificou para final. 

O Brasil enfrentou um longo jejum e só voltou a ter um time no revezamento em Atenas-2004. O time formado por Kátia Santos, Lucimar Moura, Rosemar Coelho Neto e Luciana dos Santos fez 43.12 na eliminatória, e também não avançou à decisão. Mas, ali, um objetivo foi firmado pelo técnico Katsuhico Nakaya: “Ele falou que a gente já ia começar a se preparar para 2008”, lembra Lucimar. “Foi uma preparação de anos”. 

Rosemar, Lucimar, Nakaya, Thaíssa e Rosângela (Divulgação/CBAt)

A preparação de quatro anos rendeu frutos, e o 4×100 m chegou em Pequim com duas corredoras experientes, que estiveram na Olimpíada anterior, e duas jovens velocistas – Rosângela, responsável por fechar a prova, tinha apenas 17 anos. “Me jogaram para os leões. Mas eu sempre tive o apoio das minhas companheiras. Elas nunca deixaram que a minha fosse um problema, sempre confiaram em mim”.

Se Maurren ganhou o ouro por um centímetro, o pódio do 4×100 m escapou, naquela noite, por meros 10 centésimos de segundo. O Brasil completou a prova em 43.13, e a Nigéria, terceira colocada, fez 43.04. Mas o pódio veio, ainda que tardio. Em setembro de 2016, o Comitê Olímpico Internacional (COI) confirmou a desqualificação da campeã Rússia, por causa do doping de uma de suas atletas. Assim, o Brasil garantiu a inédita medalha de bronze.