Lamentamos a morte de Wanda dos Santos, ex-atleta olimpica e a maior medalhista de ouro do Troféu Brasil

Aos 93 anos, faleceu em São Paulo nesta segunda-feira (30/6) e será velada, das 10 às 14 horas, e cremada na Vila Alpina nesta terça-feira (1/7). Deixa um legado inestimável – atleta olímpica, medalhista em pan-americanos e recordista de títulos nacionais competiu até os 89 anos.

 Atletismo Brasil e sua comunidade apresenta votos de profundo pesar pela morte de Wanda dos Santos, a maior medalhista do Troféu Brasil de Atletismo, ocorrida na madrugada desta segunda-feira (30/6), em São Paulo. Wanda tinha 93 anos e deixa um importante legado, registrado na história do atletismo nacional. O velório está marcado para esta terça-feira (1/7), das 10 às 14 horas, no Cemitério São Pedro (Av. Francisco Falconi, Vila Alpina, 837, São Paulo), onde também será realizada a cerimônia de cremação (Vila Alpina). 

A paulistana Wanda dos Santos nasceu em 1/6/1932 e começou a competir no atletismo na década de 1940. Na história do Troféu Brasil, criado em 1945, gravou seu nome como a recordista de medalhas, 48 delas de ouro, entre 1946 e 1966, no salto em distância (12 títulos), salto em altura (2), 80 m com barreiras (27) e revezamento 4×100 m (7). Os 80 m com barreiras (atualmente 100 m com barreiras) era a sua prova principal.

Destaque em sua trajetória como atleta Paulista, comecou sua carreira nas pistas do colégio e do Clube Atlético Ypiranga, em 1943. Foi para o Palmeiras, e mais tarde para o São Paulo Futebol Clube, onde treinava com o alemão Dietrich Gerner, no grupo de atletas do bicampeão olímpico do salto triplo Adhemar Ferreira da Silva. Também foi atleta do Floresta (Espéria).

Integrou a seleção brasileira que disputou a primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, realizados em 1951, em Buenos Aires, Argentina – foi medalhista de bronze no salto em distância. Também disputou mais três edições e com medalhas: bronze nos Jogos do México-1955, prata em Chicago-1959 e bronze em São Paulo-1963, todas nos 80 m com barreiras.

Foi sete vezes campeã sul-americana, duas vezes Ibero-Americana e representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Verão de 1952 em Helsinque, na Finlândia, e nos Jogos Olímpicos de Verão de 1960 em Roma, na Itália. Wanda assistiu no estádio a conquista do primeiro ouro de Adhemar no salto triplo. Em Helsinque também bateu o recorde sul-americano dos 80 m com barreiras na qualificação (11.3, sua melhor marca pessoal). No total, somou em sua carreira nove recordes brasileiros nesta prova e outros três no salto em distância (5,61 m foi sua melhor marca pessoal).

Wanda dos Santos foi uma pioneira do século 21 dentre as mulheres que abiram as portas no atletismo, ao lado de Elisabeth Clara Muller, Melânia Luz e Aída dos Santos. Wanda dos Santos casou, teve filho, e nunca abandonou as pistas enquanto conseguiu competir. Conquistou dois títulos mundiais nos 300 m com barreiras máster.

Após sofrer um AVC em 2016, a “dona Wanda”, como era chamada, voltou a disputar a Taça Brasil Máster Loterias Caixa de Atletismo, no Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo, em Bragança Paulista (SP), aos 89 anos, pelo São Paulo FC, no lançamento do disco.  Disse que queria rever amigos e “respirar atletismo” e que não havia conseguido treinar durante a COVID-19.

Wanda também foi professora de Educação Física para crianças do Ensino Fundamental, trabalho do qual se orgulhava muito de ter realizado.

Ao longo de sua carreira vitoriosa, ela teve que superar grandes barreiras, tanto como esportista quanto como mulher negra. Sofreu diversos preconceitos, mas soube enfrentá-los com a mesma excelência que conquistava medalhas, tornando-se um exemplo e um legado de empoderamento feminino.

Entidades ligadas ao atletismo Master lamentaram a perda. “Hoje, aos 93 anos, Wanda dos Santos vai morar no céu dos atletas e nos deixa um exemplo de determinação e superação. Seu legado continua a inspirar gerações de atletas brasileiros”, ressalta Celeste Lima, presidente da Associação Atlética Veteranos de São Paulo – AAVSP.

“A Wanda dos Santos era uma lenda, faz parte da história do atletismo nacional. Disputou dois Jogos Olímpicos, foi companheira de treinamento de Adhemar Ferreira da Silva e a maior campeã do Troféu Brasil de Atletismo. Sempre fui fã da dona Wanda, pessoa com a qual tive o prazer e o privilégio de compartilhar minha amizade. Ela foi exemplo, inspiração, história, o melhor do atletismo”, disse Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da CBAt.

“Tive o privilégio de conhecer a Wanda quando estava na faculdade. Na época, em 2003, 2004, houve um torneio Master e fiquei abismado ao vê-la competir com o uniforme do São Paulo, o mesmo que usou quando era atleta. Uma pessoa realmente querida. Houve um episódio em que, ao ser eleita na Associação de São Paulo, ela disse que esperava que eu não fosse um aventureiro. Depois de tudo aquilo, ela veio me agradecer e pedir desculpas pelo que havia dito. Dona Wanda era uma pessoa excepcional, realmente uma grande perda”, afirma Batista Haddad, presidente da Associação Brasileira de Atletismo Master.

“O São Paulo Futebol Clube e seu Departamento de Atletismo lamentam profundamente o falecimento de Wanda dos Santos, atleta pioneira e referência do atletismo brasileiro. Símbolo de superação e inspiração, Wanda representou nosso clube e o Brasil com coragem e talento, deixando um legado eterno no esporte”, afirma o diretor de atletismo do SPFC, Gilberto Ramos.

Wanda dos Santos, um nome que sempre será lembrado e reverenciado na história do Atletismo Brasil. Em 1989, por sua carreira no atletismo, ganhou da CBAt a Medalha do Mérito, comenda concedida aos maiores atletas do país até então.

A Federação Paulista de Atletismo decretou luto oficial de três dias.

Nossas condolências aos familiares, amigos e admiradores!

Dona Wanda uma heroina Brasileira!!!

*Informações contidas no livro Mulheres no Pódio, A empolgante histórias das atletas brasileiras, editado pela Confederação Brasileira de Atletismo em 2012 (organização Roberto Gesta de Melo; coordenação Benedito Turco) e Nota de Pesar da Federacão Paulista de Atletismo.