Organizadores, atletas e membros da Federação Amazonense de Atletismo falam sobre normas e como tornar as corridas de rua mais seguras
O dia amanhecendo e milhares de pessoas fazendo o que amam: correndo nas ruas da cidade, desafiando a si mesmas a baixarem seus tempos ou a simplesmente concluírem uma competição, isso tudo com muita alegria e energia. Mas, recentes acontecimentos como atropelamentos e até mortes de atletas em corridas de rua ou em treinos mostram a importância de os eventos serem realizados dentro das normas estabelecidas pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), buscando toda a segurança possível para os atletas, e também a importância da conscientização de trânsito da população.
Na corrida do SESI, no dia do trabalhador, 1⁰ de maio, realizada em Manaus, cinco atletas foram atropelados por um motorista que dirigia embriagado e invadiu uma das zonas do percurso, devidamente balizada e sinalizada para a corrida de rua, nas proximidades do complexo da Ponta Negra. Um deles, o atleta Emanuel Fernandes, de 26 anos, teve morte cerebral constatada no dia seguinte à prova. Após o fato, um alerta fica em evidência: nenhum cuidado é demais ao se realizar uma corrida de rua ou até mesmo para treinar na rua.
A atleta Márcia Magalhães sempre está nos pódios das corridas de rua, e sabe bem da importância de as provas proporcionarem segurança aos corredores. Ela ressalta que, no caso da Corrida do SESI, o caso foi “inesperado”, porque a corrida “estava bem balizada, com muitos cones, então o que houve foi a imprudência do motorista mesmo”, explica. Ela participa de corridas todo final de semana e considera que as corridas estão sendo bem organizadas em Manaus, mas tem receio de que o caso afete as provas: “podem dizer que a culpa é da gente, que corre na rua, quando não é”, afirma ela.
James Jr. realiza cerca de 40 provas de multiesportes por ano, em Manaus, algumas delas com disputas em várias distâncias (5, 10, 21, 42km), incluindo a Maratona Internacional de Manaus, que contou com cerca de 6 mil atletas participantes, na sua edição mais recente. Ele explica que, de acordo com a norma internacional para a realização das corridas de rua, o tráfego precisa estar fechado e isso ocorre nas principais provas do mundo, em Nova Iorque, Paris, Berlim, Chicago, etc., porém, no Brasil, as ruas são compartilhadas com os veículos, nas corridas, e o público externo não se envolve com os eventos, ao contrário do que também acontece no exterior.“(Lá fora) A cidade para e fica no entorno do acontecimento do evento, torcendo, vibrando, cooperando, instruindo e ninguém invade pista; há até uns pontos próprios de travessia de rua; há toda uma cultura desenvolvida para isso e respeito”, destaca.
Em Manaus, no entanto, a situação é diferente. “Quando se fecha a rua para uma corrida, a reclamação, a invasão (do percurso) é forte. Parece que há um sentimento de que o esporte tem que ser impedido de evoluir”, lamenta o organizador. E na capital amazonense, as pistas são compartilhadas com os carros, nas provas, não são fechadas, e James afirma que, ainda assim, os motoristas não querem fazer um retorno mais à frente, não querem nenhuma mudança no trajeto.”Temos que usar cones para indicar o percurso e também para separar os carros dos atletas, mas estamos sempre à mercê de motoristas bêbados, imprudentes”, alerta.
Para James, para que as corridas tenham mais segurança, “é preciso que o poder de polícia e de autoridade de trânsito estejam também presentes e bem estruturados, e para isso é necessário efetivo, equipamentos e estrutura de investimento por parte do poder público municipal e estadual”, destaca. O que não pode acontecer, como ressalta James, é “os corredores ficarem limitados em uma única via e correr todo domingo no mesmo lugar”.
Além de tudo, o organizador alerta para a segurança das pessoas envolvidas na organização das corridas: “seja na limpeza, no cuidado com hidratação e orientação, eles também estão sempre sobre riscos, porque fazem parte da montagem e desmontagem da prova e ficam por horas na via, enquanto o evento ocorre. Então a segurança deles também é um ponto forte de discussão nossa sempre”.
Corrida de rua, só com autorização
Em 2024, Jairo dos Santos mobilizou os corredores de Manaus para uma prova, a corrida “Movimento é vida”, que ocorreria no residencial Alphaville, em setembro, contudo, na data da prova, houve um imprevisto e a prefeitura precisou dos cones que Jairo usaria na sua prova. Ele se viu numa situação complicada, com os corredores aguardando pela largada, e nenhum cone no percurso. E mesmo sendo uma prova dentro de um residencial, Jairo decidiu adiar o evento, por segurança. Os corredores compreenderam a situação e a corrida foi realizada, dois meses depois, com sucesso.
Jairo teve prejuízos grandes com o adiamento da prova, mas explicou que não poderia realizar a corrida sem segurança, fora das normas. Ele explica que sempre realiza as competições como manda o figurino: “para proporcionar um evento seguro tem um gasto e, por isso, temos que cobrar um pouco mais caro o kit de inscrição, mas visando à saúde e bem-estar das pessoas, e essa é nossa prioridade, é necessário. Temos que ter um evento com segurança e responsabilidade, tanto com as liberações da Federação de atletismo, como também da prefeitura e do Detran, para que o evento tenha sucesso”, ressalta.
Federação fiscaliza e busca soluções
Apesar de as corridas de rua serem comuns e popularizadas, para realizar uma prova, é preciso seguir um regulamento, de modo que haja segurança aos corredores e ao controle do trânsito na cidade. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) é entidade dirigente do Atletismo no Brasil, filiada à World Athletics, e oficializa eventos de atletismo em todas as suas formas. No Estado, a entidade que tem essa responsabilidade é a Federação desportiva de atletismo do Estado do Amazonas (Fedaeam), que emite o “PERMIT”, documento que atesta a regularidade das provas, garantindo que estas respeitem normas técnicas, que ofereçam seguro de vida, ambulâncias com UTI, arbitragem qualificada e demais exigências legais e esportivas.
Além disso, a realização dessas provas deve obedecer à Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro), que condiciona o uso de vias públicas à autorização dos órgãos de trânsito, e à Lei nº 14.597/2023 (Lei Geral do Esporte), que reforça a importância da regulação esportiva. No plano estadual, a Lei nº 5.109/2020 do Amazonas também prevê diretrizes para organização de eventos esportivos em espaços públicos.
A árbitra de corridas e aferidora de percursos, Rhayna Caldas, explica que ela e a equipe da federação sempre conferem, logo cedo, o balizamento do percurso, se há ambulância com UTI, e também carro do corpo de bombeiros à disposição. Além disso, ela lembra de que é fundamental observar se o staff da prova é suficiente, bem como os pontos de hidratação para os atletas, “que são os cuidados básicos com os corredores”.
Desde 2024, a FEDAEAM passou a integrar, por convite, as reuniões do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), espaço estratégico que reúne órgãos como Polícia Militar, Polícia Civil, DETRAN, IMMU, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Saúde e outros. Essa integração fortalece o planejamento e a execução de provas com um nível mais elevado de segurança, logística e apoio interinstitucional.“A presença da FEDAEAM no CICC representa um marco para o atletismo amazonense. É a garantia de que cada evento contará com suporte integrado dos principais órgãos de segurança e mobilidade urbana do estado”, afirma Bruno Danilo Silva, Analista Técnico Esportivo da FEDAEAM.
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Fonte: https://www.acritica.com Jéssica Santos (Amazonas)