Ouros de Adhemar Ferreira da Silva inauguraram dinastia olímpica do salto triplo brasileiro

Brasileiro foi bicampeão olímpico em Helsinque-1952 e Melbourne-1956, e abriu as portas para outros dois gênios do país na prova, que ganharam uma prata e três bronzes: Nelson Prudêncio e João Carlos de Oliveira, o João do Pulo

Seis medalhas: duas de ouro, uma de prata e três de bronze. Foi com elas, entre os anos 1950 e 1980, que uma verdadeira dinastia olímpica do salto triplo brasileiro se estabeleceu, graças às conquistas de Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e João Carlos de Oliveira, o João do Pulo. 

Nelson Prudêncio, João do Pulo e Adhemar Ferreira da Silva, a dinastia do triplo (Arquivo CBAt)

O precursor foi o paulistano Adhemar, nascido em 29 de setembro de 1927. Começou no atletismo em 1946, aos 19 anos, no São Paulo Futebol Clube, que ainda mantinha suas instalações no bairro do Canindé. Foi orientado pelo treinador alemão Dietrich Gerner.

A opção pelo salto triplo veio no ano seguinte. Em menos de dois meses de treino na prova, sagrou-se campeão paulista. E, em 1948, fez sua estreia olímpica, nos Jogos de Londres. Aos 20 anos, terminou na 8ª posição, com a marca de 14,49 m.

A ascensão de Adhemar no salto triplo foi meteórica. Em 1949, saltou 15,51 m e se tornou recordista sul-americano. Em 1950, fez 16,00 m e igualou o recorde mundial que, desde a final de Berlim-1936 era do japonês Naoto Tajima. No ano seguinte, Adhemar melhorou sua marca e virou único dono do recorde mundial, com 16,01 m. 

Não à toa, chegou em sua segunda participação olímpica, nos Jogos de Helsinque-1952, como favorito ao ouro. E sua performance na disputa foi sublime: na qualificação, fez 15,32 m. Na final, executou seis saltos incríveis. Na primeira tentativa, 15,95 m; na segunda, 16,12 m – recorde mundial. Ainda saltou mais três vezes acima da sua melhor marca inicial. Fez 16,05 m, 16,09 m e 16,22 m. Ao fim da prova, ovacionado pelo público, correu toda a extensão da pista do Estádio Olímpico, para agradecer o apoio dos torcedores: ali nascia a volta olímpica.

Um ano após a conquista olímpica, Adhemar deixou de ser recordista mundial: o soviético Leonid Shcherbakov, prata em Helsinque, fez 16,23m. A resposta do brasileiro veio nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955, quando ele saltou 16,56 m, a melhor marca de sua carreira e recorde mundial até 1958.

Adhemar foi para a sua terceira participação nos Jogos, em Melbourne-1956, ainda como o triplista dominante do cenário mundial. Mas enfrentou dificuldades: na véspera da qualificação, teve uma forte dor de dente, resolvida com uma ida ao dentista. Mas foi à final e, com a marca de 16,35 m (melhorando o recorde olímpico que já era dele), tornou-se o primeiro atleta do país a ser bicampeão olímpico. O resultado valeu o apelido de “canguru brasileiro”.

O saltador ainda disputou uma quarta Olimpíada, Roma-1960. Aos 33 anos, foi o porta-bandeira da delegação brasileira pela segunda vez, repetindo o posto de quatro anos antes. Disputou a final e ficou na 14ª colocação, com 15,07 m. 

Em depoimento ao Museu da Pessoa, Adhemar relembrou sua despedida olímpica. “Juntei meu material e fui deixando a pista… Uma coisa me chamou a atenção: uma salva de palmas ensurdecedora. Eu olhei para o local do salto triplo. Mas, ao olhar bem, a prova estava paralisada, como as demais provas estavam paralisadas. E, à medida que eu ia deixando o estádio, as palmas aumentando. Rapidamente eu fiz um retrospecto da minha vida, e concluí que aqueles que estavam aplaudindo eram aqueles que me conheceram em Londres, que me aplaudiram em Helsinque, na Finlândia, que voltaram a me aplaudir em Melborne, e que estavam então, aplaudindo, desejando um feliz fim de carreira.”

Nelson Prudêncio e João do Pulo mantêm o Brasil no Olimpo

Adhemar Ferreira da Silva se retirou das pistas em 1960. Quatro anos depois, aquele que seria seu sucessor conhecia o atletismo. Nelson Prudêncio, nascido em Lins (SP), em 4 de abril de 1944, tinha 20 anos quando conheceu a pista do Bolão, em Jundiaí. Fez um teste, foi aceito, e com um mês de treino, saltou 12,60 m – no fim da temporada de 1964, já tinha 13,76 m. 

Menos de dez anos depois, Nelson já tinha duas medalhas olímpicas e um recorde mundial, que foi estabelecido na final dos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968. Foi uma disputa memorável com o italiano Giuseppe Gentile e o soviético Viktor Saneyev.

Tudo começou na qualificação de 16 de outubro, quando Gentile saltou 17,10 m e melhorou em sete centímetros o recorde do polonês e campeão olímpico Józef Szmidt, em vigor desde 1960. Na final do dia 17, Gentile saltou 17,22 m, Saneyev marcou 17,23 m e Nelson, 17,27 m. O brasileiro disse que, “naquele momento, o mundo veio abaixo”.

Nélson havia ido ao México com um plano traçado junto com o treinador Clovis Nascimento: superar o recorde brasileiro da prova, que era 16,56 m e pertencia a Adhemar desde 1955. Mas ele foi muito além: superou essa marca quatro vezes na final (17,05 m, 16,75 m, 17,27 m, 17,15 m). Elegante, Saneyev cumprimentou o brasileiro e se preparou para seu último salto: fez 17,39 m e conquistou o ouro. Nélson ficou com a prata, seguido por Gentile.

Quatro anos mais tarde, o brasileiro continuava entre os favoritos do salto triplo, e voltou da Olimpíada de Munique-1972 com a medalha de bronze (17,05 m) – Saneyev conquistou o bicampeonato olímpico (17,35 m).

Nélson Prudêncio ainda disputou sua terceira Olimpíada, Montreal-1976, mas não passou da qualificação – naquela época, já dividia a carreira nas pistas com a de professor na Universidade Federal de São Carlos, onde havia se formado em Educação Física em 1971. O Brasil já tinha, no entanto, revelado um outro extraordinário triplista: João Carlos de Oliveira, o João do Pulo.

João nasceu em 28 de maio de 1954, em Pindamonhangaba (SP). Começou no atletismo em 1971, com 17 anos e 1,89 m de altura. Foi o terceiro grande nome olímpico do salto triplo brasileiro. 

O saltador chegou à sua primeira Olimpíada com o status de recordista mundial: havia alcançado 17,89 m nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1975, marca que seria mantida intacta por uma década – foi com esse resultado que ganhou o apelido de João do Pulo.

Nos Jogos de 1976, João entrou no estádio olímpico de Montreal como porta-bandeira da delegação brasileira (o que se repetiria quatro anos depois). Passou à final com a melhor marca da qualificação (16,81 m), mas, na decisão, não conseguiu se aproximar do recorde: foi bronze, com 16,90m, enquanto o soviético Saneyev conquistava um incrível tricampeonato olímpico.

A Olimpíada de 1980 foi disputada em Moscou, em meio a um boicote aos Jogos convocado pelo presidente norte-americano Jimmy Carter, cujo governo condenava a invasão soviética ao Afeganistão – era mais um dos muitos capítulos da disputa envolvendo as duas potências na Guerra Fria.

Foi naquela complexa conjuntura política que se deu o último ato da dinastia brasileira do triplo. Uma disputa polêmica, em que João do Pulo teria sido deliberadamente prejudicado para que o saltador da casa, o multicampeão Saneyev, conquistasse seu quarto ouro olímpico.

João teve quatro de seus seis saltos na final invalidados pela arbitragem – pelo menos um deles teria sido de mais de 18 metros, o que lhe daria o recorde mundial e o ouro. Mas o brasileiro só teve contabilizadas a primeira (16,96 m) e a terceira (17,22 m) tentativas. O ouro acabou com a União Soviética. Não com Saneyev, que foi prata (17,24 m), mas com Jaak Udmae (17,35 m). 

Em 1981, com apenas 27 anos, João do Pulo sofreu um grave acidente de carro que levou, no ano seguinte, à amputação de sua perna direita e ao fim precoce de uma das mais brilhantes carreiras do triplo mundial. 

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