Há 100 anos, em Paris, atletismo do Brasil iniciava sua história nos Jogos Olímpicos

Atletismo brasileiro fez sua primeira participação olímpica nos Jogos de Paris, em 1924, com uma delegação de oito atletas; um século depois, Brasil volta à terceira Olimpíada na capital francesa com 19 medalhas conquistadas

Com uma delegação de oito atletas, todos homens, o atletismo brasileiro iniciava sua história nos Jogos Olímpicos há 100 anos, nos Jogos de Paris-1924. Um século depois, o Brasil volta à terceira Olímpiada na capital francesa – o atletismo será disputado entre os dias 1 e 11 de agosto, no Stade de France.

Os Jogos Olímpicos da Era Moderna tiveram sua primeira edição em 1896, em Atenas. O Brasil fez sua estreia olímpica apenas em 1920, na Antuérpia. Quatro anos depois, na segunda edição dos Jogos em Paris (a primeira havia sido em 1900), o Brasil constituiu seu primeiro time do atletismo para a disputa.

Primeira equipe olímpica, nos Jogos de Paris 1924
(Reprodução/Sonhos e Conquistas/COB)

E não foi fácil. O país vivia um momento de instabilidade política e social, no governo do presidente Arthur Bernardes. Além disso, havia desorganização e rivalidade política entre os grupos de dirigentes esportivos do Rio de Janeiro e de São Paulo, que dividiam as forças do esporte nacional desde seus primórdios. Nesse cenário, o patrocínio a uma participação olímpica pelo governo federal deixou de ser uma prioridade e a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) cancelou a ida do Brasil a Paris.

A medida revoltou as federações estaduais, que temiam o comprometimento das relações do Brasil com o Comitê Olímpico Internacional (COI). Entraram em cena, então, três personagens: o médico José Ferreira Santos (delegado do COI), o empresário Antônio Prado Júnior (presidente do Club Athletico Paulistano) e o jornalista Américo do Rego Netto, do jornal O Estado de S. Paulo. Os três representantes do esporte paulista assumiram o desafio de selecionar atletas e fazer os organizadores da Olimpíada a reconsiderarem a inscrição brasileira.

Para conseguir recursos financeiros, uma parceria foi firmada com o jornal O Estado de S. Paulo, que organizou uma arrecadação pública de dinheiro. A iniciativa deu certo e a inscrição aos Jogos, garantida.

Faltava formar a delegação: o foco era o atletismo, uma vez que a modalidade crescia em São Paulo – naquele mesmo ano, com a participação de Prado Júnior e Rego Netto, era fundada a Federação Paulista. As seletivas foram organizadas na capital paulista. Atletas de outros Estados foram chamados a participar, mas a maioria não compareceu. Assim, o Brasil perdeu a chance de contar com bons atletas, principalmente do Rio de Janeiro. Ao fim, nove atletas foram convocados – oito de São Paulo e o gaúcho Willy Seewald. Mas Alberto Byington Junior não competiu (viajou a Paris como secretário da equipe).

E esses foram os atletas que, no dia 27 de maio de 1924, embarcaram no navio Orânia, em Santos, rumo a Paris: Álvaro de Oliveira Ribeiro (100 m e 200 m), Narciso Valadares Costa (400 m e 800 m), Alfredo Gomes (5.000 m e cross country), Eurico Teixeira de Freitas (salto em altura e salto com vara), José Galimberti (arremesso do peso e lançamento do disco), Octávio Zani (arremesso do peso, lançamento do disco e do martelo) e Willy Seewald (lançamento do dardo). Aldo Travaglia (110 m com barreiras) morava na Itália e juntou-se à delegação na Europa. O treinador foi o norte-americano radicado no Brasil Alexander Hogarty. Américo do Rego Netto foi o chefe da equipe. 

Os Jogos de Paris-2024 começaram em 4 de maio e o atletismo foi disputado no Estádio des Colombes, com capacidade para 60 mil pessoas. Nenhum dos atletas brasileiros alcançou finais. O grande astro da edição foi o finlandês Paavo Nurmi, que conquistou cinco medalhas de ouro (1.500 m, 5.000 m, cross country, cross country por equipes e 3.000 m por equipes).

Melânia Luz com integrantes do atletismo e da natação nos Jogos de 1948
(Arquivo/CBAt)

A estreia das mulheres, apenas 24 anos depois

A disputa olímpica do atletismo foi exclusivamente masculina até os Jogos de Amsterdã, em 1933, quando três provas femininas foram incluídas no programa: 100 m, 800 m e 4×100 m. O Brasil teve mulheres em sua equipe pela primeira vez em Londres-1948, com seis participantes: Benedita de Oliveira (100 m), Elisabeth Muller (100 m, salto em altura e arremesso do peso), Gertrudes Morg (salto em distância), Helena de Menezes (100 m e 200 m), Lucila Pini (200 m) e Melânia Luz (200 m), que, aos 20 anos, foi a primeira atleta negra a integrar uma seleção brasileira nos Jogos Olímpicos.

As 19 medalhas olímpicas do atletismo brasileiro

Ouro (5)

Adhemar Ferreira da Silva – salto triplo – Helsinque-1952 e Melbourne-1956
Joaquim Cruz – 800 m – Los Angeles-1984
Maurren Maggi – salto em distância – Pequim-2008
Thiago Braz – salto com vara – Rio-2016

Prata (3)

Nelson Prudêncio – salto triplo – Cidade do México-1968
Joaquim Cruz – 800 m – Seul-1988
André Domingos, Claudinei Quirino, Edson Luciano, Vicente Lenílson e Cláudio Roberto Souza – revezamento 4×100 m – Sydney-2000

Bronze (11)

José Telles da Conceição – salto em altura – Helsinque-1952
Nelson Prudêncio – salto triplo – Munique-1972
João Carlos de Oliveira – salto triplo – Montreal-1976 e Moscou-1980
Robson Caetano – 200 m – Seul-1988
André Domingos, Arnaldo Oliveira, Edson Luciano e Robson Caetano – revezamento 4×100 m – Atlanta-1996
Vanderlei Cordeiro de Lima – maratona – Atenas-2004
Rosemar Coelho, Lucimar Moura, Thaissa Presti e Rosângela Santos – revezamento 4×100 m – Pequim-2008
Vicente Lenílson, Sandro Viana, Bruno Lins e José Carlos Moreira (Codó) – revezamento 4×100 m – Pequim-2008
Alison dos Santos – 400 m com barreiras – Tóquio-2020
Thiago Braz – salto com vara – Tóquio-2020

A foto é uma reprodução da página 47 do livro Sonhos e Conquistas – O Brasil nos Jogos Olímpicos do século XX, editado pelo COB. O crédito dado no livro é Acervo Alberto Murray-São Paulo.

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